A crónica que aqui deixo, foi publicada, ontem, no jornal "Observador" Escrita por uma brasileira, é uma visão que eu partilho interamente ...
" Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal
26/11/2016, 13:391.938
Portugal é um país
muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o
mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.
Dentre as coisas que
mais detesto, duas podem ser destacadas: ingratidão e pessimismo. Sou
incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto
que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui-
embora pareça-me que muitos nem percebam.
Não estou dizendo que
Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é. Nem os portugueses são, nem os
brasileiros, nem os alemães, nem ninguém. Mas para olharmos defeitos e pontos
negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente. Mas acredito
que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria
inspirar-se.
Para começo de
conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses
aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém. Os
alemães descobririam outros acompanhamentos além da batata. Os ingleses
aprenderiam tudo do zero. Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de
muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco grelhado,
ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate, baba de
camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles.
Mais do que isso, o
mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se
relacionam. Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima. Saber que
o porco é alentejano, que o vinho é do douro. Talvez o pequeno território
permita que os portugueses conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua
mesa, diferente do que ocorre, por exemplo, no Brasil.
O mundo deveria saber
ligar a terra à família e à história como os portugueses. A história da quinta
do avô, as origens trasmontanas da família, as receitas típicas da aldeia onde
nasceu a avó. O mundo não deveria deixar o passado escoar tão rapidamente por
entre os dedos. E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho
certeza de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes.
O mundo deveria ter o
balanço entre a rigidez e a afeto que têm os portugueses.
De nada adiantam a
simpatia e o carisma brasileiros se eles nos impedem de agir com a seriedade e
a firmeza que determinados assuntos exigem. O deputado Jair Bolsonaro, que
defende ideias piores que as de Donald Trump, emergiu como piada e hoje se
fortalece como descuido no nosso cenário político. Nem Bolsonaro nem Trump
passariam em Portugal. Os portugueses- de direita ou de esquerda- não riem
desse tipo de figura, nem permitem que elas floresçam.
Ao mesmo tempo, de
nada adianta o rigor japonês que acaba em suicídio, nem a frieza nórdica que
resulta na ausência de vínculos. Os portugueses são dos poucos povos que sabem
dosar rigidez e afeto, acidez e doçura, buscando sempre a medida correta de
cada elemento, ainda que de forma inconsciente.
Todo país do mundo
deveria ter uma data como o 25 de abril para celebrar. Se o Brasil tivesse
definido uma data para celebrar o fim da ditadura, talvez não observássemos com
tanta dor a fragilidade da nossa democracia. Todo país deveria fixar o que é
passado e o que é futuro através de datas como essa.
Todo idioma deveria
carregar afeto nas palavras corriqueiras como o português de Portugal carrega.
Gosto de ser chamada de miúda. Gosto de ver os meninos brincando e ouvir seus
pais chama-los carinhosamente de putos. Gosto do uso constante de diminutivos.
Gosto de ouvir “magoei-te?” quando alguém pisa no meu pé. Gosto do uso das
palavras de forma doce.
O mundo deveria
aprender a ter modéstia como os portugueses -embora os portugueses devessem ter
mais orgulho desse país do que costumam ter. Portugal usa suas melhores
características para aproximar as pessoas, não para afastá-las. A arrogância
que impera em tantos países europeus, passa bem longe dos portugueses.
O mundo deveria saber
olhar para dentro e para fora como Portugal sabe. Portugal não vive centrado em
si próprio como fazem os franceses e os norte americanos. Por outro lado, não
ignora importantes questões internas, priorizando o que vem de fora, como
ocorre com tantos países colonizados.
Portugal é um país
muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o
mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal. Essa
sorte, pelo menos, nós brasileiros tivemos."
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