A propósito dos Passadiços do Paiva

Através do Facebook, tomei conhecimento de um texto publicado no blogue Do Meu Mirante, do colega e Amigo José Cerca, do Professor Viriato Seromenho-Marques. Como o texto diz tudo aquilo que eu penso e sinto, a propósito dos Passadiços do Paiva, partilho-o.

Grupo de caminhantes que fizeram a Caminhda da Primavera 2016, no dia 18 d  junho de 2016, nos Passadiços do Paiva, no sentido Areinho - Espinca

"No final de Maio, com um grupo de amigos de adolescência, fui visitar os cada vez mais famosos Passadiços do Paiva, situados no Município de Arouca. É uma experiência libertadora que recomendo a todos os leitores do JL. Os Passadiços foram inaugurados no início do Verão de 2015, tendo conhecido um imediato sucesso, apenas interrompido por um grande incêndio florestal, em Setembro passado, que devorou um troço de 600m, num percurso total de 8,7km. Já em Fevereiro deste ano, os Passadiços reabriram, com novas medidas de gestão que melhoraram um projecto já de si notável. Com efeito, enquanto nos primeiros meses era impossível limitar o acesso, o que colocava questões de capacidade carga e de segurança, agora os visitantes têm de adquirir previamente, através do sítio www.passadicodopaiva.pt, uma entrada ao custo simbólico de 1 euro. Para além de uma fonte de receita, este bilhete permite controlar o número de visitantes que não deverá ultrapassar os 3 500 por dia.

Entrámos pelo acesso de Espiunca, caminhando até à entrada de Areinho, onde se encontram as escadarias que constituem a parte mais difícil do percurso. Ida e volta, percorremos perto de 17 Km, em 5h. Mas existe sempre a possibilidade de reduzir para metade a distância, tomando um transporte (táxi ou autocarro) numa das duas entradas/saídas. O Paiva é um rio selvagem, abrindo o seu caminho numa garganta sinuosa, ao longo da qual cresce uma flora bravia, onde pontificam amieiros, freixos e carvalhos, um curso de água ideal para a prática de canoagem e rafting, desportos-de-natureza que estão a ser desenvolvidos por empresas locais, e que exigem um regresso a quem faça uma primeira visita. Mas a experiência dos passadiços, pela segurança elegante da sua construção, permitindo uma visitação íntima da bela paisagem natural, deixando-a incólume, é só por si merecedora de uma viagem.

O mais relevante, contudo, será exaltar o significado político e ambiental dos Passadiços do Paiva. Trata-se de uma peça visível, integrada numa mais ampla e bem estruturada estratégia de desenvolvimento sustentável, liderada pela autarquia, em articulação com a sociedade civil, e em particular com o envolvimento do tecido empresarial da zona. O nosso grupo ficou alojado numa agradável estrutura de turismo de habitação, a Quinta de Anterronde, mesmo nos arredores de Arouca. O jovem casal de proprietários, ao pequeno-almoço, explicou-nos como a economia. Incluindo a criação de postos de trabalho, e a defesa do ambiente se articulavam de modo racional e planeado.

Os Passadiços devem ser integrados, como já o referi, numa visão mais ampla, que envolve o Geoparque, destinado a preservar e a valorizar a riqueza geológica da região. Não se trata apenas de um potencial natural, mas sim de um activo turístico que se traduz na tesouraria municipal e na prosperidade da restauração, da hotelaria, e do pequeno comércio da região. Quem quiser conhecer um fantástico exemplo de desenvolvimento local sustentável, com boa utilização de fundos europeus e uma equilibrada distribuição dos benefícios do investimento deve passar também pelo Radar Meteorológico de Arouca, deve subir à Serra da Freita, onde se encontram muitos dos 41 geo-sítios classificados do Geoparque. De tudo isso, o indispensável será contemplar as pedras parideiras, as pedras boroas e as tribolites gigantes. Raridades geológicas, devidamente musealizadas em centros de interpretação que permitem uma compreensão mais profunda daquilo que, mesmo à vista desarmada, surpreende o visitante. Quanto tanto se discute sobre a necessidade de crescimento económico do nosso debilitado mercado interno, livre do desequilíbrio causado por uma balança comercial desfavorável, vale a pena pensar no bom exemplo de Arouca. Enquanto tantos falam das áreas naturais protegidas como um obstáculo ao desenvolvimento, outros, como os autarcas de Arouca fazem dele a coluna vertebral de um futuro onde todos cabem, sobretudo os que nele querem participar com as suas boas ideias e esforço realizador."
Viriato Soromenho-Marques


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