Em tempo de férias ....

Duna da Praia de Mira
Em tempo de férias, quando muitos de nós fomos, estamos ou iremos até à beira mar, um interessante texto do Professor António Galopim de Carvalho, partilhado pelo meu amigo e antigo Professor de Geografia Física II, Lúcio Cunha no Facebook e que eu aproveito para divulgar.

"A AREIA QUE PISAMOS NA PRAIA. O QUE É E DE ONDE VEIO




Não há, praticamente, ninguém que não tenha pisado a areia numa praia. O que é a areia e de onde vem? Serão iguais todas as areias que já pisámos? São perguntas que se fazem e cujas respostas estão ao alcance de qualquer um.
O termo areia radica no latim "arena" e é por isso que chamamos arena ao redondel das praças de touros e que dispomos do termo arenoso para qualificar um local contendo areia.
Areia é um substantivo colectivo que define uma população de partículas, na grande maioria dos casos, minerais e/ou rochosas de diâmetros compreendidos (por definição convencionada) entre 2mm e 0,064mm. Acima deste intervalo dimensional consideram-se vários calibres de cascalho, e abaixo dele, distinguem-se o limo, relativamente mais fino, e a argila, ainda mais fina, com a aparência de um pó.
Nas latitudes tropicais deparam-se-nos praias de areias brancas de neve, ladeadas por um mar de um belo azul que, de claro na franja litoral, se torna mais escuro para o largo, à medida que a profundidade aumenta.
Se analisarmos algumas destas areias, praticamente, não vemos um grão de quartzo nem de outro qualquer mineral. Há nelas, apenas, bioclastos, ou seja, grãos de natureza calcária, provenientes do desmantelamento de corais, algas coralinas, diversas espécies de moluscos e de outros organismos construtores de carbonato de cálcio com que edificam as respectivas partes esqueléticas.
Se a origem da areia for uma rocha de composição granítica aflorante numa região temperada e relativamente húmida, acontece que, por efeito dos agentes atmosféricos, os grãos de feldspatos que integram a sua capa superficial, se vão alterando em argila, permitindo a sua desagregação e subsequente erosão pelas águas pluviais e de escorrência.
Os grãos de quartzo, inalterados devido à sua grande estabilidade química, ficam, assim, também eles, sujeitos à erosão. Os grãos das micas, quer os mais alteráveis (biotite), quer os menos alteráveis (moscovite), acabam por se dividir em finas lamelas facilmente arrastadas pelas águas correntes. Neste cenário, a areia de uma aluvião situada na proximidade da fonte dos seus detritos, alem dos grãos de quartzo, contém grãos de feldspato (em muito menor quantidade) e palhetas de mica.
Após o seu arraste pelas águas fluviais (situação mais frequente na região climática considerada) ao longo de um percurso suficientemente longo, a areia vai enriquecendo em quartzo, relativamente aos outros componentes. Isto porque o feldspato, quimicamente instável, é também muito frágil, permite a sua pulverização e consequente arraste para mais longe, Para mais longe vão igualmente as micas, uma vez que os choques sofridos durante esse transporte as dividiu em finíssimas lamelas facilmente arrastáveis, como se disse atrás.
Ao chegar ao litoral esta areia passa a ser retrabalhada pelo constante e interminável fluxo e refluxo das vagas, aperfeiçoando a selecção mineralógica em favor da espécie química e fisicamente mais resistente, isto é, o quartzo. Neste quadro, as areias das nossas praias são essencialmente quártzicas. Só o não são exclusivamente, porque contêm sempre uma certa componente bioclástica, representada por fragmentos de conchas de bivalves e de outros moluscos, componentes que contribuem para a sua tonalidade habitualmente castanha amarelada.
As dunas litorais não são mais do que acumulações de areia de praia varrida para o interior pelo vento e acumulada na sua imediata vizinhança.
No norte do país, em Lavadores, por exemplo, temos areias de praia em cuja composição figuram quartzo e feldspato. Tal acontece devido à ocorrência de grandes extensões de granitos aflorantes nesses locais. Dada essa proximidade o feldspato não dispõe da extensão de percurso suficiente para ser reduzido ou eliminado.
Em algumas praias, como por exemplo em São Torpes, há mancha escuras devido à abundância de grãos de magnetite e de ilmenite, dois minerais de cor preta, provenientes do maciço intrusivo de Sines onde estas espécies são comuns. Misturadas com a areia clara, predominantemente quártzica, estas espécies minerais, por serem mais densas do que o quartzo, resistem ao sopro do vento que constrói a duna anexa, permanecendo na praia.
As areias das praias das ilhas vulcânicas são habitualmente negras, condição que resulta da erosão das respectivas rochas, no essencial, de natureza basáltica. Nestas rochas os minerais dominantes (piroxena, anfíbola e olivina) são escuros e os acessórios (magnetite e ilmenite) são mesmo pretos. Sempre que estas ilhas reúnem condições propícias à geração de organismos produtores de esqueletos calcários em quantidade apreciável as areias das respectivas praias são uma mistura de grãos escuros, de origem basáltica ou afim, e bioclastos esbranquiçados de natureza carbonatada.
Mas as areias não se resumem às das praia e das dunas litorais. Há as das dunas interiores, como as dos desertos de areia, e as das aluviões fluviais.
Houve-as com idênticas histórias no passado. Fazem parte de muitas sequências sedimentares, apresentando-se, geralmente, tanto mais consolidadas quanto mais antigas são. Demos-lhes o nome de arenitos, o que quer dizer pedras feitas de areia.
Também o quartzito é feito de areia, com a particularidade de ter sido submetida a temperaturas e pressões mais elevadas (metamorfismo), tornando-se uma rocha bastante coesa e dura."

Praia de Mira

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