No ano em que se celebram 90 anos sobre o início da mitica corrida e no dia em que é a dada a partida para mais uma edição das 24 Horas de Le Mans, aqui ficam os 10 automóveis, que nas palavras de Ricardo Grilo, jornalista do jornal Autosport, marcaram as oitenta e nove edições anteriores ...
O texto que se segue é da autoria do Ricardo Grilo e as fotografias foram descarregadas da internet ...
01 - Bentley Speed Six – 1928 a 1930
Ettore Bugatti desconsiderava-os, referindo-se a eles como os “Camiões mais
rápidos do mundo”. Não seria um epíteto de todo desajustado, pois com 2
toneladas de peso e motores de 6,5 litros, os Speed Six não seriam propriamente
o paradigma de uma viatura de desporto. No entanto, a presença e os triunfos
consecutivos da marca de Walter Owen Bentley foram primordiais para o
reconhecimento internacional da prova, indicando em simultâneo que os
resultados promoviam o prestígio e as vendas nos concessionários. O que levou o
próprio Bugatti a querer participar oficialmente na prova.
02 - Bugatti 57 C de 1939
Depois de uma desastrosa presença em 1931, Jean Bugatti convenceu o pai a regressar
a Le Mans em 1937, com a versão de competição do modelo 57. O resultado foi uma
incontestada vitória. Em 1939, a marca de Molsheim voltou com uma evolução do
conceito, um único 57 C de linhas ainda mais puras, que venceu de novo a
maratona. Bastante ousado na sua forma em gota de água, podemos considerar que
o 57 terá sido o primeiro ‘Sport’ moderno em Le Mans, com uma carroçaria
‘Spider’ aerodinâmica que iria fazer escola nos anos do pós-guerra, servindo de
inspiração para carros tão importantes como o Jaguar XK120 C da década de 1950.
03 - Ferrari 166 MM de 1949
Enzo Ferrari era um génio que jogava pelo seguro, fazendo carros competitivos
sem serem revolucionários. No entanto, este 166 MM ficou para a história, não
só por ser o primeiro carro da marca italiana a alinhar à partida (e a vencer)
como mostrou que um ‘Sport’ ligeiro motorizado por um pequeno e sofisticado V12
de 2 litros podia bater uma concorrência baseada no poder das grandes
cilindradas.
04 - Jaguar XK120 C – 1951 a 1953
O projeto da Jaguar em Le Mans partia da vontade do patrão da marca, William
Lyons, desejoso de repetir os feitos gloriosos da compatriota Bentley. Se em
termos das linhas da carroçaria – delineada por Malcom Sayer – já vimos que não
seria um conceito original, o Jaguar C Type inovou por ter sido o primeiro
carro a correr (e vencer) equipado com travões de disco, na edição de 1953.
05 - Jaguar D Type – 1954 a 1960
Conquistado o avanço no domínio da travagem, o passo seguinte da equipa de
Sayer foi aplicar os conhecimentos de engenharia aeronáutica – desenvolvidos na
Bristol Aeroplane – para conceber um veículo revolucionário, com carroçaria
aerodinâmica, jantes em liga leve e chassis de arquitetura monobloco. Era
realmente notável: pela primeira vez, os depósitos de combustível inseridos
dentro da estrutura monobloco eram em material deformável – outra herança dos
aviões – e o característico estabilizador vertical antecipou em mais de 50 anos
as ‘barbatanas de tubarão’ obrigatórias nos atuais LMP. Desse trabalho de génio
nasceu o fabuloso Jaguar D, vencedor de Le Mans entre 1955 e 57 e, para muitos,
considerado o mais elegante automóvel na história da prova francesa. Não menos
importante, as suas linhas serviriam de inspiração para as formas do lendário
Jaguar E, apresentado em 1961 e um dos mais belos GT de sempre.
06 - Ford GT 40 – 1964 a 1969
Nos anos 60, a luta entre a Ford e a Ferrari mobilizou o interesse de milhões
de aficionados em todo o mundo. O primeiro carro do gigante americano com reais
pretensões à vitória foi o mítico GT 40, estreado na edição de 1964 e vencedor
absoluto em 1968 e 69. Nesta última presença, talvez a mais brilhante de todas,
bateu a ‘armada invencível’ da Porsche, perante a mais numerosa assistência
jamais reunida no circuito. Além disso, serviu de base aos modelos MKII e MK
IV, os ‘Big Block’ da marca, que em 1966 e 67 derrotaram os belíssimos Ferrari
P3 e P4.
07 - Porsche 917 LH – 1970 a 1971
Se o Porsche 917 marcou uma era pela ousadia do conceito e pelo palmarés
alcançado, a versão ‘Lang Heck’ (cauda longa) destacou-se particularmente pelo
extraordinário desempenho revelado nos escassos anos em que participou: uns
impressionantes 396 km/h na reta das Hunaudières e uma volta de Jackie Oliver
em 1:13.9 (a 250.069 km/h de média!). Se a velocidade máxima seria batida 17
anos depois, por um WM Peugeot, o recorde da volta do 917 ficaria para sempre
invicto. Mas, para lá dos recordes, a versão ‘cauda longa’ de 1971, concebida
com o auxílio dos técnicos franceses da SERA, representou um dos maiores saltos
de sempre em termos de conceção aerodinâmica. Os três 917 LH/71 estavam tão à
frente do seu tempo que antecipavam as linhas dos futuros Grupo C… que
apareceriam 11 anos mais tarde.
08 - Porsche 936 – 1976 a 1981
O primeiro modelo sobrealimentado a vencer as 24 Horas de Le Mans resultou de
um projeto low cost que aproveitava peças excedentárias de outros programas
desportivos da marca de Estugarda. Começou por herdar o motor do 911 Carrera
Turbo de 74, um chassis tubular derivado do 908/3 e os travões e caixa do
notável 917. Apesar do comedimento de recursos, o cocktail viria a resultar em
pleno, sendo talvez o projeto oficial com a melhor relação custo/resultados de
sempre. O 936 conheceu por três vezes o gosto da vitória, a última das quais em
1981, a derradeira de uma viatura equipada com chassis tubular. Não menos
importante, estreou o motor do futuro 956 de Grupo C, o carro mais marcante da
década de 80.
09 - Lola B2K10B/Caterpillar – 2004
Se logo na edição de 1950 os irmãos Delletrez trouxeram o primeiro Diesel a Le
Mans, cerca de meio século mais tarde o Lola da equipa Taurus teve o mérito de
fazer renascer a tecnologia Diesel na era moderna, com um projeto caseiro do
sempre criativo Ian Dawson. O propulsor aproveitava o bloco V10 de um VW
Touareg como base para o motor de competição batizado de Caterpillar. Lutando
com um peso excessivo – o V10 pesava mais 50 kg que o habitual Judd – não era
um carro talhado para grandes feitos. Sem qualquer resultado de relevo, ficou
para a história por se ter antecipado por dois anos ao projeto vencedor do Audi
R10.
10 - Audi R8 – 2000 a 2005
O segundo protótipo aberto da Audi marcou a era moderna de Le Mans, sendo um
carro extremamente bem concebido para o cenário das provas de endurance.
Introduziu novos parâmetros de fiabilidade e resistência, graças à sua
construção modular, que permitia recuperar rapidamente o R8 após avarias ou
acidentes que em qualquer outro modelo equivaleriam a um imediato abandono.
Ficará na memória o duplo acidente de McNish e JJ Lehto, em 2004, com os dois
Audi fortemente danificados a arrastarem-se até às boxes e, apesar do piloto
escocês ter sido encaminhado para o hospital, ambos carros foram recuperados e
puderam concluir a prova, e bem classificados... um acontecimento até então
inédito. Não menos importante, o R8 venceu Le Mans por 5 vezes, tendo sido o
último carro a gasolina a chegar ao degrau mais alto do pódio.
[ler +]