A propósito de "A Selva" de Ferreira de Castro

Hoje, através do Facebook, cheguei a uma entrevista que a Professora Fernanda Cravidão, deu ao sítio da Associação Portuguesa de Geógrafos.

Como é alguém do meu conhecimento pessoal, apesar de não ter sido minha professora, quando fiz o curso em Coimbra, pois nessa altura andava ela ocupada com o seu doutormaneto e os meus interesses para as cadeiras de opção, divergiam da Geografia da População, que ela regia, não deixei de ler.

E com mais interesse li, quando me apercebi, logo na primeira questão que lhe puseram  - Comentário a um livro que a marcou ou cuja leitura recomende - que fez uma referência, muito elogiosa, ao romance castriano, "A Selva"

Na entrevista, ela disse:
" 1 - Comentário a um livro que o marcou ou cuja leitura recomende
Não é fácil encontrar um livro. São tantos! Há uns que marcam na primeira leitura outros só mais tarde lhe encontramos o “verdadeiro” sentido. Em casa dos meus pais havia (há) uma biblioteca pequena, mas onde encontro algumas das obras que me têm acompanhado pela vida. Foi ai que descobri, precocemente, Ferreira de Castro, Aquilino e Euclides da Cunha. O tempo se encarregaria de me fazer chegar Carlos Oliveira, Alves Redol ou Vergílio Ferreira, entre muitos outros. E o tempo se encarregaria, também, de me mostrar como essas leituras permitem outras leituras do país, perceber os territórios com olhares diferenciados e também captar, às vezes, num olhar breve, o país de ontem e o país de hoje.
Quando, há cerca de 25 anos, fui pela primeira vez a Manaus reli A  Selva de Ferreira de Castro. O
percurso feito rio acima, envolvida nas redes que acolhem os passageiros, trouxe as imagens que a leitura me tinham permitido construir. Nada parecia ter mudado. Quando no início dos anos 90 orientei um seminário sobre emigração, um dos livros que referi e discuti com os alunos foi essa obra, escrita em 1929.
A Selva continuou a fazer parte do meu percurso. Como geógrafa, como viajante, como pessoa. E cruza-se também pelo cinema   através do filme Fitzcarraldo do realizador Werner Herzog, de 1982. Ambos, Ferreira de Castro e Herzog, têm como território de referência a mesma Selva Amazónica e como traço comum o Sonho. Sonhos diferentes, é certo, mas que se entrelaçam na relação quase utópica com a floresta. Enquanto na obra de F. de Castro a selva é simultaneamente lugar de produzir riqueza e miséria humana, W. Herzog traz-nos para o ecrã a utopia de um melómano que contra a corrente transporta a “Europa” de Manaus para Iquitos. Ao cortar a floresta para fazer transportar o barco Molly Aida entra numa luta balizada pelo ritmo das chuvas, de seis em seis meses, uma batalha constante, marcada pela malária, pelos autóctones e pela selva. Tal como parte das personagens de Castro.
Não tenho o livro da minha vida! Refiro um dos que me marcou mais, Morte em Veneza de Thomas Mann, escrito em 1912. Nesta obra, levada ao cinema (1971) por Luchino Visconti, o autor parece fazer uma Geografia interior sempre em busca do eternamente belo.
Um livro que sempre aconselho."
[A entrevista pode ser lida, na totalidade no sítio da Associação Portuguesa de Geógrafos]

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